sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Sonhos podem nos ajudar


Texto de : Soozi Holbeche

Estados alterados

Portanto, parece que o sono é um período de purgação, cura, relaxamento físico e ajuste psicológico. As palavras de Edgar Cayce condizem com as descrições de inúmeros sobreviventes de experiências de quase-morte e sugerem que no sono podemos ter experiências semelhantes àquelas da morte e do pós-morte.

O Livro Tibetano dos Mortos descreve vividamente as imagens de medo, horror, ameaça ou punição que podemos ver após a morte, mas salienta que essas são formas-pensamento criadas pela própria pessoa e baseadas em suas crenças. Os lamas tibetanos são treinados para man­ter consciente uma pessoa moribunda o maior tempo possível, para po­der guiá-la através dessas ilusões, à medida que vão surgindo. Nos dias precedentes, durante e após a morte, o paciente será lembrado de que deve deslocar-se em direção à luz, enfrentar qualquer vulto ameaçador, mas não se envolver emocionalmente com isso, pois trata-se apenas de uma fantasia de sua imaginação. A ioga tibetana do sonho é uma espécie de ensaio geral para dominar os desafios dessa experiência. Como nas antigas escolas de mistério, o aluno aprende a se manter consciente durante toda a noite, enquanto se encontra num estado semelhante ao sono. Ele controla o que se passa em seu mundo interior, e assim fica pre­parado para fazer o mesmo na morte.

Depois de um acidente em que o carro que eu dirigia foi atingido por um caminhão e ficou despedaçado, tive um sonho no qual eu via seis senhores do carma, altos e impressionantes, diante de mim. Senti meus joelhos tremerem. O primeiro apontava para um corpo que apa­receu miraculosamente ao meu lado, em pé, vazio mas ereto, como uma armadura. Entrei nele e representei como se fosse um mímico, até que o segundo senhor apontou para outro corpo, onde também tive de entrar. Fiz isso seis vezes até que uma voz disse: "Você escolheu viver doze vidas em uma. Agora você completou seis." Enquanto eu olhava para esses vultos severos que estavam à minha frente, de repente percebi que eram aspectos de mim mesma, e que eu julgava a mim própria. Imediatamente, todos nos pusemos a rir. Era como se eles estivessem sobre pernas de pau e elas caíssem. Acordei absolutamente certa de que para mim Deus era um Deus de amor e humor, e que se escolhermos acreditar na punição e no julgamento, nós os administramos a nós mes­mos.



O sono como um caminho para entender os outros



Pesquisas parapsicológicas sobre a natureza da consciência indicam que durante o sono há uma comunicação telepática mais intensa com os outros. Nós "abandonamos" os limites do ego e nos tornamos mais abertos, mais receptivos para as pessoas conhecidas e desconhecidas que estão à nossa volta. O físico Albert Einstein escreveu sobre a ne­cessidade de nos libertarmos da prisão do sentimento de que estamos separados de todas as outras pessoas, ampliando o nosso círculo de solidariedade a fim de abranger todas as criaturas viventes. Parece que durante o sono todos podemos fazer isso. Quanto mais próximos esti­vermos uns dos outros, mais empatia sentiremos; portanto, maior a pro­babilidade da "sintonia" telepática ou clarividente. Maridos e esposas, amigos e amantes, podem não só desenvolver idênticos padrões de sono, mas também com freqüência sonhar os mesmos sonhos ao mesmo tempo. Combinar-se com outra pessoa durante o sono é fascinante; mas também pode ser um ótimo recurso para lidar com os problemas da vida desperta.

Uma vez passei quatro semanas viajando pela Europa com um grupo de vinte e cinco pessoas que brigavam e discutiam o tempo todo. Infelizmente, a responsabilidade de arranjar os quartos era minha e todas as noites vinha aquela fila de pessoas dizendo: "Eu não quero dormir com X porque ele ou ela fuma/ ronca/ levanta às duas da manhã/ fica muito tempo no banheiro/ não pára de falar/ não diz uma palavra/ não gosta de mim, e assim por diante. Certa ocasião, chegamos depois da meia-noite num hotel que cometeu um engano com a nossa reserva. Então nos ofereceram dois quartos grandes com colchões no chão. Todos nos amontoamos, independentemente de sexo, propensão a roncos ou qualquer outra coisa. Tínhamos de estar de pé às cinco horas da manhã para pegar um ônibus e, apesar de haver apenas dois banheiros, todos estavam prontos, alegres e de bom humor. Daquele momento em diante, as discussões sobre quem deveria dormir onde terminaram: era como se da noite para o dia todas as nossas arestas tivessem sido aparadas e juntadas.

Dormir no mesmo quarto que os outros é um outro caminho para a percepção e a compreensão. Um grupo de homens de negócios, cuja empresa estava repleta de problemas comerciais e de relacionamento — que as reuniões oficiais não tinham resolvido —, leu um artigo no jornal que afirmava que "dormir junto era estar reunido". Então eles decidiram sair para fazer um acampamento no fim de semana e levaram uma barraca grande onde todos dormiriam juntos. Eles não sabiam nada sobre sonhos ou incubação de sonho (ver Capítulo 7). Nesse fim de semana eles se refestelaram, não discutiram quase nada sobre negócios, dormiram mais do que comeram e, sem terem tido nenhum sonho má­gico ou recebido nenhuma revelação profunda, voltaram para casa. No entanto, em algum nível inconsciente ocorreu uma harmoniza­ção. Na semana seguinte, cada homem produziu uma idéia que por si só não era prática, mas que, ao se juntar com as idéias dos outros, desenvolveu-se num empreendimento bem-sucedido em sua execução. Desde então eles têm utilizado muitas vezes a técnica de "dormir jun­tos", e a empresa agora está prosperando.

A psicóloga-clínica, minha amiga Sylvia, arranjou um emprego num hospital americano que logo ela descobriu ser famoso pela violência de seus internados, e também pelos tratamentos que eles recebiam com drogas, camisas-de-força e celas acolchoadas. Após o primeiro dia ela já queria ir embora, e nessa noite adormeceu exausta e irritada, e sonhou que sua mente tornava-se uma teia pulsante de luz que se expandia até
conter o hospital inteiro. Ela via cada piso, corredor e ala, enquanto os rostos dos reclusos surgiam e desapareciam ao seu redor.

Então pareceu a Sylvia que ela estava flutuando fora de seu corpo até o último andar do hospital, onde ainda não tinha estado. Havia uma série de portas trancadas com cadeados, mas ela as atravessou e chegou às alas onde os pacientes pareciam estar em compartimentos como gaio­las, isolados por arames. Quando a viram, flutuaram em direção a ela, gritando, chorando e pedindo ajuda. Ela não sabia como ajudar, mas cumprimentou cada um deles, pegou-lhes nas mãos, afagou-lhes o rosto, disse-lhes como ela se chamava e prometeu voltar.

Quando acordou, não se lembrou de nada disso, mas mergulhou em seu trabalho com um novo vigor e sentiu uma relação diferente com o pessoal. À tarde, a enfermeira-chefe disse-lhe que queria apresentá-la a pacientes e funcionários que ela ainda não conhecia. Elas foram para o último andar do hospital e, de repente, Sylvia reconheceu os corredores e as portas com cadeado da noite anterior. A enfermeira-chefe disse que era muito perigoso entrar naquela ala sem a companhia de dois enfermeiros, pois ali estavam os internos mais violentos e loucos do hospital, mas que ela podia olhar através dos visores.

No entanto, Sylvia insistiu em entrar e, ao fazê-lo, todos os pacientes se levantaram, dizendo: "Sylvinha, Sylvinha, você voltou!" Ela sentiu calafrios na espinha à medida que cumprimentava cada paciente, exatamente como fizera no sonho. De algum modo, a sua consciência se combinara com a de seus pacientes — não foi unilateral, mas mútuo. Eles a reconheceram.

Antes de ela chegar, os psicólogos só entravam nessas alas com um guarda. Sylvia, que sempre entrava sozinha, nunca sofreu nenhum mal, e passou os vinte anos seguintes trabalhando para reabilitar essas pessoas. Quando precisava aprofundar o trabalho com alguém em par­ticular ou com um determinado grupo, ela dormia no hospital com eles; não no mesmo quarto, mas tão próximo quanto possível. Para Sylvia, o sono era tão produtivo quanto qualquer coisa que fizesse durante as horas de vigília, permitindo-lhe reagir intuitivamente ao temperamento de todos que estavam ao seu redor. (Nem sempre é possível dormir com todos aqueles com os quais queremos uma boa relação! Porém, eu acho que escrever o nome da pessoa num pedaço de papel e dormir sobre ele pode produzir resultados semelhantes. É como se, ao fazê-lo, "chamássemos" o outro para dentro da nossa órbita.)


Edgar Cayce


Provavelmente, a pessoa mais produtiva em seu sono, em todos os tempos, foi Edgar Cayce, que freqüentemente era chamado de "o profeta adormecido". Mesmo quando criança, ele dormia sobre os livros e da noite para o dia absorvia a informação que eles continham. Ao acordar era capaz de repetir fluentemente o que tinha aprendido enquanto dormia. No tempo em que era jovem, Cayce estava vendendo enciclopédias — um trabalho que ele odiava — quando as suas cordas vocais ficaram paralisadas e ele perdeu a voz. Depois de falharem todos os tratamentos ortodoxos, sua família levou-o a um hipnotizador numa feira local, o qual submeteu-o a um profundo estado de sono ou transe, em que Cayce diagnosticou a causa e recomendou o tratamento para a sua própria condição. Mais tarde ele aprendeu a auto-induzir esse estado, que con­tornava a mente consciente e dava acesso ao que chamava de sabedoria do subconsciente, e que para Jung era o inconsciente coletivo. Ele pre­cisava apenas do nome e da localização geográfica de qualquer pessoa em qualquer parte do mundo para dar um diagnóstico detalhado da condição do indivíduo.

Durante a vida ele ajudou milhares de pessoas, e desde a sua morte em 1945, suas leituras mediúnicas, cuidadosamente documentadas pela Associação para a Pesquisa e a Iluminação, em Virgínia Beach, têm ajudado outros milhares. A vida e o trabalho de Cayce têm sido tema de dezenas de livros. Ele é ainda o exemplo mais extraordinário de como podemos utilizar o sono para mergulhar no inconsciente, embora sempre insistisse que qualquer um que estivesse disposto a desenvolver suas faculdades psíquicas e espirituais poderia fazer o mesmo.


Do livro: “COMO OS SONHOS PODEM NOS AJUDAR”, Soozi Hojbeche, Editora Cultrix, 1994





Extraído do Blog Holosgaia

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