terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

O encontro de Fellini e Castañeda (2)

Frederico Fellini

"Depois da morte de Carlos [Castañeda], li uma entrevista com Federico Fellini, conduzida por Toni Mariani e traduzida para o inglês por A. F. Bierman para o Bright Lights Film Journal. A versão de Fellini da história me afetou a fundo porque foi tão dramaticamente representativa das descobertas que eu fazia e continuo a fazer.

"Fellini disse ao entrevistador:

"Primeiro procurei Castañeda por intermédio de seus editores. Falei com o editor, que me deu o ende­reço do agente de Castaneda, um Ned Brown em Nova York. O editor me contou que seria fácil para Brown me dar o endereço de Castaneda. Uma vez por ano um rapaz mexicano trazia manuscritos para o editor. Ned Brown me contou que nunca encontrara com Castaneda.

"Persistindo em minha busca, disseram-me que Castaneda estava em um hospício de loucos ou até mesmo morto. Outra pessoa disse que o tinha encontrado e que ele estava vivo, que tinha estado presente em uma palestra de Castaneda. Depois, em Roma, foi uma Sra. Iogui quem me pôs em contato com ele. E finalmente encon­trei Castaneda.
"A personalidade de Castaneda é bastante diferente do que você poderia imaginar. Ele parecia um siciliano - cordial, calmo, um anfitrião sorridente. Pele morena, olhos negros, um sorriso muito claro. Tinha a efusividade de um latino, de uma pessoa do Mediterrâneo. Ele é peruano, não mexicano.

Carlos Castañeda


"Esse simpático cavalheiro, que assistiu a todos os meus fil­mes, contou-me que um dia com dom Juan. há trinta ou quarenta anos, ele vira meu filme, La Strada - que foi feito em 1952. Dom Juan lhe dissera: 'Você vai ter de encontrar o diretor desse filme.' Castaneda contou que dom Juan profetizara esse encontro. Eu contei a você que ele veio aqui para me encontrar, aqui, nesta sala, sentado bem aqui.

"Uma coisa que me fascinava e quase me alienava em certo sen­tido - um italiano, um latino, um mediterrâneo, condicionado pela educação católica - era a visão particular de Castaneda e de dom Juan em relação ao mundo. Via algo inumano aí. Independentemente de dom Juan, que é charmoso por um lado literário, e somos leva­dos a vê-Io como um velho sábio, eu não conseguia deixar de ser invadido muitas vezes por um sentimento de estranheza. Como se me confrontasse com uma visão de um mundo ditado por um quart­zo! Ou um lagarto verde!"

Fellini continuou: "Na visão do mundo de dom Juan, não havia conforto, nada do que muitos outros textos podem dar... Isso era o que os tornavam terríveis e fascinantes para mim. Mas eu, parecia me encontrar em um mundo asfixiado... Talvez a loucura pode pa­recer esse tipo de silêncio astral, gelado e solitário."

"A versão de Fellini do encontro com Castaneda era bem dife­rente da que eu cheguei a conhecer tão bem. Ele disse: "Fenôme­nos e maravilhamento saltaram. Quando ele veio ao meu hotel, trouxe algumas mulheres. Nunca mais o vi, mas depois disso en­contrei mensagens estranhas em meu quarto e as coisas se moviam de um lado para outro. Acho que era magia negra. Suas mulheres, mas não Castaneda, foram comigo a Tulun e as mesmas coisas aconteceram lá.
"Esse simpático cavalheiro, que assistiu a todos os meus fil­mes, contou-me que um dia com dom Juan. há trinta ou quarenta anos, ele vira meu filme, La Strada - que foi feito em 1952. Dom Juan lhe dissera: 'Você vai ter de encontrar o diretor desse filme.' Castaneda contou que dom Juan profetizara esse encontro. Eu contei a você que ele veio aqui para me encontrar, aqui, nesta sala, sentado bem aqui.

"Uma coisa que me fascinava e quase me alienava em certo sen­tido - um italiano, um latino, um mediterrâneo, condicionado pela educação católica - era a visão particular de Castaneda e de dom Juan em relação ao mundo. Via algo inumano aí. Independentemente de dom Juan, que é charmoso por um lado literário, e somos leva­dos a vê-Io como um velho sábio, eu não conseguia deixar de ser invadido muitas vezes por um sentimento de estranheza. Como se me confrontasse com uma visão de um mundo ditado por um quart­zo! Ou um lagarto verde!"

"Fellini continuou: "Na visão do mundo de dom Juan, não havia conforto, nada do que muitos outros textos podem dar... Isso era o que os tornavam terríveis e fascinantes para mim. Mas eu, parecia me encontrar em um mundo asfixiado... Talvez a loucu


Fellini

"Isso foi há alguns anos - em 1986 - e ainda não consegui entender o que realmente aconteceu. Talvez Castaneda sentia por ter me levado lá e causou uma série de fenômenos para me desen­corajar a fazer o meu filme. Ou talvez seus associados não queriam que eu fizesse um filme e fizeram essas coisas. De qualquer forma, foi tudo muito estranho, por isso decidi não fazer o filme."

(Do livro "Aprendiz de Feiticeiro", de Amy Wallace )



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