sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Michel Onfray, o filósofo francês que desafia os círculos acadêmicos





Desconforme com o modelo educativo tradicional, Onfray criou uma Universidade onde não se fazem exames nem se conferem títulos. Seus textos combinam a filosofia com gastronomia, religião, anarquismo e a busca do prazer.


Segue artigo de Héctor Pavón publicado no jornal argentino Clarín, 11-02-2008.


A tradução é do Cepat.

Há uma Universidade na cidade de Caen, França, onde um filósofo chamado Michel Onfray dá aulas para auditórios lotados de ouvintes. Não são alunos tradicionais, são pessoas que vão à universidade para aprender sem buscar títulos, mas saberes finamente selecionados. É esse o espírito que rege a escritura deste pensador que se mantém afastado dos círculos acadêmicos que costuma defenestrar. Produz textos livres que combinam filosofia com gastronomia, religião, anarquismo, história e a busca do prazer, entre outras disciplinas e ocorrências.

Muitos desses livros (escreveu mais de quarenta) foram editados aqui [Argentina] ou importados e são lidos apaixonadamente. Somente em 2007 foram editados quatro: La filosofía feroz (Libros del Zorzal); La potencia de existir. Manifiesto hedonista (De la Flor); El cristianismo hedonista. Contrahistoria de la filosofía II e Las sabidurías de la antigüedad (Anagrama). Há um crescente interesse por seu pensamento e por sua atitude antiintelectual que seduz e multiplica leitores argentinos.

Alguns de seus livros começaram a circular nos anos 90: A razão gulosa e O ventre dos filósofos [No Brasil, ambos são editados pela Rocco], por exemplo. Esse modo de analisar a partir da filosofia os hábitos culinários chamou a atenção, e seu nome começou a circular nas livrarias, faculdades e círculos de discussão filosófica fora das universidades. Depois se conheceu um livro bem divertido sobre a vida dos filósofos cínicos e de Diógenes em particular, Cinismos. O ateísmo e o hedonismo são os temas que ocupam seu pensamento desde sempre.

O livro Tratado de Ateologia [Martins Fontes, 2007] vendeu 200 mil exemplares só na França e também provocou reações ásperas por parte de grupos religiosos. Foram publicados três livros que tentaram rebater seus postulados e também foi aberto um blog intitulado “Contra Michel Onfray”. Ali fazem fila intelectuais e crentes em geral para “pegar” Onfray. No blog se pode ler: “Michel Onfray, nascido em 1959 (depois de JC) pretende desencaixar tudo. Inspirado nas correntes de idéias marxistas e nietzscheanas, prega a descristianização. Suas propostas são virulentas, cultiva o desprezo, propaga idéias caluniosas e blasfemas”. Também se poderia dizer que se encarregou de historiar o prazer ou sua carência. O seu caminho também fustiga o cristianismo e ao mesmo tempo resgata, em El cristianismo hedonista, santos heréticos e sábios licenciosos cristãos que participaram de banquetes sexuais.

Onfray teve uma infância muito dura, sem família. Graças à filosofia se refez de um duro começo: “A filosofia me permitiu sobreviver à tragédia que foi para mim ser enviado a um orfanato por meus próprios pais quando eu tinha dez anos. Os livros, a leitura me salvaram nesse momento e depois me garantiram a salvação novamente na minha adolescência, quando a filosofia funcionou em mim como o sentido, a verdade, a certeza, a razão que ninguém me havia transmitido: creio que a filosofia é uma terapia, o que séculos de filosofia mostraram, sempre que não foram cristãos...”, diz desde Argentan, sua cidade natal.

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