segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Jameson. Um pensamento crítico que acertou em cheio.

Fredric Jameson


Por: Benedetto Vecchi



"Para Jameson, o desenvolvimento do capital mina, de fato, pela raiz o projeto do Moderno, radicalizando, todavia, algumas tendências já presentes na modernidade", comenta Benedetto Vecchi, em artigo publicado pelo jornal Il Manifesto, 29-12-2007. Segundo ele, "Pós-modernismo foi, de fato, uma obra seminal sem a qual teria sido impossível pensar um pensamento crítico na altura da grande mutação do capitalismo mundial".

Eis o artigo.

Estranho destino aquele do ‘Pós-modernismo’, o volume de Fredric Jameson que acaba de sair em italiano. Uma obra que assumira as orientações de alguns ensaios publicados na “New Left Review” quando o Muro de Berlim parecia uma presença destinada a durar ainda por séculos, mas que fora publicado nos anos em que as ruínas daquele muro eram vendidas como suvenir de uma era distante no tempo. Um punhado de anos, o tempo exato para inscrever Jameson entre as fileiras dos glorificadores da nova ordem mundial. Um verdadeiro e próprio escárnio para um estudioso que considerava o pós-moderno unicamente como a lógica cultural do capitalismo maduro. O ardil para desmontá-lo. Jameson não mostra realmente nenhuma indulgência com a retórica sobre o fim das grandes narrações que um filósofo francês seu contemporâneo, Jean-François Lyotard, distribuía a mãos cheias através dos seus ensaios.

Lyotard


O capitalismo maduro, argumentava Jameson, é uma totalidade que, no interior da oscilação entre homologação e diferença, prefere esta última para alimentar um pluralismo dos estilos de vida e a presença de identidades prêt-à-porter.

E, para melhor exemplificar sua reflexão, preferia seccionar manufaturas culturais entre si heterogêneas, obras arquitetônicas que devem ostentar o poder das multinacionais ou o aburguesamento das metrópoles americanas, aos romances de Thomas Pynchon, que desestruturam a progressão linear do tempo histórico. Para Jameson, o desenvolvimento do capital mina, de fato, pela raiz o projeto do Moderno, radicalizando, todavia, algumas tendências já presentes na modernidade. Uma mina de sugestões, a sua, que abriu filões de pesquisa até então desconhecidos, chegando a apresentar as obras do último Derrida ou de Michel Foucault não como testemunhos filosóficos, e sim como expressões, embora sofisticadas, de uma sociologia do capitalismo maduro.

A história seguiu depois o seu curso e as teses de Jameson foram liquidadas como um sofisticado exercício acadêmico. Em lugar da pílula pós-moderna se substituíram as fortes identidades baseadas na religião ou no sangue, um pensamento liberal-democrático que escolhe como sua raiz um iluminismo depurado de sua dialética e que aponta o indicador contra os postulados igualitários da democracia, enquanto a ressaca plúmbea do tsunami da globalização abriu caminho à guerra infinita ao terrorismo. Em suma, o pós-moderno de Jameson podia ser deixado à “crítica rotativa dos tópicos”. Mas, diversamente de quanto sustentam os críticos passados e atuais, era, sim, justo arquivar sua reflexão, mas somente porque havia acertado em cheio. Pós-modernismo foi, de fato, uma obra seminal sem a qual teria sido impossível pensar um pensamento crítico na altura da grande mutação do capitalismo mundial. O problema, se for o caso, é continuar sua exploração do presente, considerando a revitalização social-democrática ou as retóricas em torno das fortes identidades como variantes daquela condição pós-moderna que Jameson ensinou a encarar sem se ficar petrificado.

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