sábado, 12 de janeiro de 2008

Auto-Observação...(2)


Eu estava, certa vez, ao longo da Liteiny, em direção à Nevsky, e, apesar de todos os meus esforços, não conseguia manter minha atenção na lembrança de si. O barulho, o movimento, tudo me distraía. A cada minuto perdia o fio da atenção, encontrava-o de novo e tornava a perdê-lo. Por fim, senti uma espécie de irritação ridícula comigo mesmo, e dobrei a esquina, à esquerda, decidido a manter a atenção no fato de que haveria de me lembrar de mim mesmo pelo menos por algum tempo, pelo menos até alcançar a próxima rua. Cheguei à Nadejdinskaya sem perder o fio da atenção, exceto talvez por breves momentos. Depois, retornei à Nevsky ainda me lembrando de mim mesmo, e já começava a experimentar o estranho estado emocional de paz e confiança interiores que surge depois de muitos esforços desse tipo. Bem na esquina, em Nevsky, havia uma charutaria onde eram fabricados os meus cigarros. Ainda lembrando-me de mim, pensei em entrar e encomendar alguns.
"Duas horas depois, acordei na Tavricheskaya, isto é, bem longe de lá. Eu ia de carro até a editora. A sensação de acordar era extremamente viva. Posso quase dizer que voltei a mim. Lembrei-me imediatamente de tudo. De como tinha estado a andar pela Nadejdinskaya, de como me lembrava de mim mesmo, de como pensara nos cigarros e de como, ao pensar nisso, parece que caí, desaparecendo em um sono profundo.
Ao mesmo tempo, enquanto imerso neste sono, continuara a realizar ações coerentes e expedientes. Saí da tabacaria, voltei ao meu apartamento na Leiteiny, telefonei à editora...No caminho, de carro, ao longo da Tavricheskaya, comecei a sentir um desconforto estranho, como se tivesse me esquecido de alguma coisa. E, de repente, me lembrei que tinha me esquecido de lembrar de mim." (Ouspensky, In Search of the Miraculous, p. 120)

In: O Outsider, Colin Wilson, pag.269)

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